Prefácio
PREFÁCIO
Trabalho pioneiro em termos de disponibilização, em rede, de dados toponímicos registrados em mapas históricos, o Repositório de dados da toponímia histórica de Minas Gerais[1] vem responder à exigência do mundo contemporâneo de produção de materiais que evidenciem interfaces da Informática com outras áreas do conhecimento, no caso deste Repositório, da Toponímia com a Geografia e a História. O Repositório, por conter um banco de dados históricos sobre a toponímia de Minas Gerais, é destinado, primordialmente, a estudiosos da Cultura, da Geografia, da História do estado de Minas Gerais, bem como a estudantes e professores da Língua Portuguesa, em particular àqueles que se ocupam de estudos na área do léxico, nomeadamente do léxico onomástico-toponímico. O Repositório está vinculado ao Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHG-MG) e foi organizado por três renomados pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais: Márcia Maria Duarte dos Santos, Maria Cândida Trindade Costa de Seabra e Antônio Gilberto Costa que atuam nas áreas de Toponímia e da Geografia e de Cartografia Histórica.
Segundo Dick (1997, p. 12), a toponímia “é a disciplina que caminha ao lado da história, servindo-se de seus dados para dar legitimidade a topônimos de um determinado contexto regional, inteirando-se de sua origem para estabelecer as causas motivadas, num espaço e tempo preciso[2]. Completa ainda a toponimista brasileira que o exame da relação entre os nomes favorece a comparabilidade, “de modo que, da distribuição conjunta, se infira um modelo onomástico dominante ou vários modelos simultâneos” (p.12). Como a base de dados que integra o Repositório reúne topônimos representativos de diferentes eixos espaço-temporais – a amostra disponibilizada é composta por oito mapas da Capitania e sete das suas Comarcas, relativos ao período do Setecentos ao Oitocentos Joanino –, consequentemente, os dados partilhados refletem diferentes sincronias da toponímia mineira e por isso fornecem parâmetros acerca do modelo toponomástico em voga no processo de ocupação e de definição do território de Minas Gerais, o que é favorecido pela adoção de mapas representativos da Cartografia Histórica como fonte primária de dados (“quinze mapas relativos à representação de todo o território da Capitania e o de suas Comarcas, circunscrições político-administrativas coevas”)[3]. A estrutura do sistema informático do Repositório reúne seis tópicos: Home, Apresentação, Fonte de Dados, Repositório, Créditos e Contato que dialogam entre si de forma “amigável”, o que facilita a consulta, também, por um público não muito familiarizado com a manipulação de informações veiculadas em rede.
Abrindo o site, o link Home, além de fornecer os dados oficiais da ficha catalográfica da publicação, traz duas chamadas – Apresentação e Mapas – que reúnem informações gerais sobre cada um desses tópicos e remetem o usuário aos links relativos a esses itens na estrutura do site por meio do comando “saiba mais ⇒”. Na base de todas as páginas do site são arrolados os logotipos de uma extensa gama de órgãos que participaram do projeto que deu origem ao Repositório: instituições da UFMG (Pró-Reitorias de Pesquisa, Extensão, Recursos Humanos e a Rede de Museus e Espaços de Ciência e Cultura, o Museu de História Natural e Jardim Botânico, o Grupo Mineiro de Estudos do Léxico, a Faculdade de Letras, o Departamento de Cartografia do Instituto de Geociências), além do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq).
O link Apresentação contém dois itens: o da apresentação propriamente dita e o do projeto. O primeiro tópico amplia as informações de identificação e a finalidade da publicação: “Este Repositório contém um banco de dados históricos sobre a toponímia de Minas Gerais e está disponível para os vários grupos interessados nos estudos do léxico mineiro”. Descreve também as fontes consultadas (documentos cartográficos), com destaque para a experiência acumulada pela Profa. Dra. Maria Cândida Trindade Costa de Seabra, em termos de estudos toponímicos com base em fontes históricas, desde 2004[4], e pela Profa. Dra. Márcia Maria Duarte dos Santos em estudos de Geografia e de Cartografia Histórica, relacionados ao território mineiro. O Repositório de Dados é um dos produtos finais do projeto de pesquisa Registros Cartográficos Históricos: Revelando o Patrimônio Toponímico de Minas Gerais do Período Colonial ao Joanino (2014-2016), financiado pelo CNPq e desenvolvido sob a responsabilidade das pesquisadoras supramencionadas. O texto pontua o apoio decisivo do Prof. Antônio Gilberto Costa, Coordenador do CRCH-UFMG, e o dos Drs. Wagner Colombarolli (gestão 2013-2016) e Aluízio Alberto da Cruz Quintão (gestão 2016-2019) Presidentes do Instituto Histórico Geográfico de Minas Gerais (IHG-MG).
O segundo tópico, por sua vez, discorre sobre a natureza do projeto de pesquisa Registros Cartográficos Históricos: Revelando o Patrimônio Toponímico de Minas Gerais do Período Colonial e Joanino que “explorou os aspectos referentes à relevância e à proeminência dos mapas, em todas as etapas da pesquisa, desde o levantamento dos documentos cartográficos estudados, a identificação dos topônimos históricos, a análise dos dados, até a comunicação dos resultados obtidos” e que resultou na publicação do Repositório de dados, um dos seus produtos.
Destaca-se como ponto relevante do projeto a disponibilização de uma amostra de mapas eleitos como fonte primária e fidedigna de dados históricos que podem ser úteis para estudos de diferentes níveis e a partir de perspectivas diversas por parte de estudantes, professores, pesquisadores, planejadores, administradores, dentre outros. Esses documentos cartográficos “pertencem a acervos de museus, de arquivos e de bibliotecas situados no Brasil e em Portugal”. Os mapas selecionados registram um recorte do patrimônio toponímico de Minas Gerais e evidenciam “padrões motivadores do ato de nomeação, de camadas dialetais presentes na língua, e da permanência, ainda hoje, dos topônimos no território”.
Esse mesmo tópico oferece o acesso a uma variada gama de informações relacionadas aos produtos bibliográficos obtidos por meio do projeto de pesquisa em tela, como a organização do Atlas – Patrimônio Toponímico na Cartografia Histórica de Minas Gerais (SANTOS, SEABRA e COSTA, 2016)[5] que, “além de abranger uma coletânea de mapas, reúne também outras mensagens gráficas, como diagramas e figuras, além de textos, para ampliar a comunicação com os usuários”. O Atlas digital, os dez marcadores de folhas e um folheto impressos em papel, destinados a diferentes segmentos de público considerou o interesse por consultas por uma série variada de consulentes em locais distintos de maneira a cobrir um número tanto quanto possível maior de público interessado em questões de Língua Portuguesa, de Geografia, de História e de Cartografia de Minas Gerais. “O folheto, cujo título é o topônimo “Minas Gerais”, contém informações da mesma natureza das que se encontram nos marcadores de folhas, além de mapas e figuras do território da Capitania”. Traz também dados sobre as comarcas que integravam o território mineiro, criadas no Setecentos (Vila Rica, Rio das Mortes, Sabará e Serro), e no Oitocentos Joanino (Paracatu).
A operacionalização do projeto de pesquisa em foco contemplou ainda a realização de duas exposições, na sede do Centro de Referência em Cartografia Histórica (CRCH/UFMG): A Exposição Cartografia Histórica e Toponímia: Conexões Possíveis, aberta na 12ª Semana de Museus, em maio de 2014, e explorou o tema proposto pelo Instituto Nacional de Museus (IBRAM). Essa exposição foi associada, também, a uma atividade de extensão, que faz parte do portfólio de ações educativas do Centro, realizadas em setembro de 2014 e 2015, na Semana da Primavera de Museus, “Conhecendo a Exposição Cartografia Histórica e Toponímia + Conversando sobre Mapas Históricos de Minas Gerais”, ofertada a professores e a estudantes de Licenciatura das áreas de Letras, História, Geografia e a outros segmentos de público interessados. A segunda exposição foi aberta, em maio de 2016, na 14a Semana de Museus, e perdura até 2017, nas instalações do CRCH. A atividade Paisagens Culturais – Expressões da Toponímia e Cartografia Histórica põe em evidência resultados finais do Projeto como “comunicados, sobretudo, por meio de mapas temáticos e de diagramas, além de ilustrações destacadas dos mapas históricos estudados, como formação do território e do léxico toponímico, motivação e origem dos topônimos e patrimônio linguístico”.
Em síntese, o projeto de pesquisa em questão contribuiu sobremaneira para a disseminação de diferentes faces da toponímia mineira. As pesquisadoras responsáveis pelo projeto apontam três aspectos da avaliação positiva do produto da pesquisa: as informações sintetizadas no Atlas - Patrimônio Toponímico na Cartografia Histórica de Minas Gerais; o uso de documentação cartográfica como fontes de informação primária e a adoção do enfoque diatópico, em especial para a caracterização das contribuições das línguas portuguesa e indígenas e as motivações do ato da nomeação nas regiões do território mineiro.
Na sequência, a estrutura do site traz o link voltado para a fonte dos dados que, por sua vez, está subdividido em dois tópicos: Mapas e Propriedades. Sem desmerecer a importância das demais informações disponibilizadas no Repositório de dados, esse tópico merece destaque, haja vista ser ele a aglutinar a amostra de mapas representativos do período histórico delimitado para o estudo. As informações disponibilizadas pela Cartografia Histórica dão sustentação à proposta, uma vez que se configuram como documentos nucleares no conjunto dos dados analisados.
As áreas territoriais cobertas pela amostra de mapas foram tomadas como parâmetro para a organização e a divulgação dos mapas- Capitanias e Comarcas. O primeiro tópico reúne oito mapas da Capitania de Minas Gerais, produzidos entre 1767 e 1870. Nesse período da história do Brasil, capitanias eram “circunscrições que fizeram parte da estrutura político-administrativa da América portuguesa até o final do período Colonial” e eram uma iniciativa da Coroa Portuguesa, a partir do século XVI. A Capitania de Minas Gerais, por exemplo, foi criada “sob o signo de Capitania Real, em 1720, desmembrada da Capitania de São Paulo e Minas, essa, instituída em 1709”.
Já ao segundo tópico – Comarcas –, foram agrupadas sete representações cartográficas produzidas entre os anos de 1777 e 1821, que cobrem cinco Comarcas de Minas Gerais: Vila Rica, Sabará, Rio das Mortes, Serro e Paracatu. Nesse momento da história do Brasil, Comarcas configuravam-se como “divisões judiciárias das Capitanias, e importantes referências territoriais para as atividades administrativas exercidas por seus governadores, no território colonial da América portuguesa”. O texto do site esclarece que os mapas “se encontram sob a guarda de bibliotecas e arquivos, no Brasil e em Portugal”. Correspondem “a originais e a cópias de época, manuscritas e coloridas”. Essas representações cartográficas contêm “desenhos primorosos dos signos que configuram o espaço de representação, e ilustrações muito significativas na composição dos cartuchos do título, da legenda e da escala”.
O tópico Propriedades reúne informações detalhadas sobre os mapas disponibilizados que incluem desde características técnicas dos documentos como, por exemplo, a escala das representações cartográficas até a justificativa de escolha de duas circunscrições territoriais (Capitanias e Comarcas) que se justifica pela perspectiva diatópica (variação geográfica de elementos linguísticos) adotada na pesquisa que deu origem ao banco de dados históricos.
Acresce-se que um clique sobre cada mapa descortina para o usuário dados técnicos acerca do mapa; a produtividade de topônimos dele levantados; as referências bibliográficas consultadas e a imagem do mapa, que pode ser ampliada de acordo com o interesse e a necessidade do consulente.
O link subsequente, o Repositório propriamente dito, fornece ao usuário duas perspectivas de acesso a informações. A ferramenta de Busca permite o contato com informações específicas acerca de cada topônimo que integra o inventário, tais como: Agrupamento (Capitania/Comarca), Entrada Lexical, Estado, Mesorregião, Microrregião, Acidente Nomeado, Natureza (física ou antropocultural), Motivação, Origem linguística. A partir de um toque no “agrupamento” e, ou “entrada lexical”, nova tela é aberta contendo dados especificadores do topônimo em causa como, por exemplo, detalhamento do mapa de onde foi extraído, o nome da comarca, a descrição da quadrícula do mapa, a especificação dos acidentes geográficos nomeados e os topônimos históricos a eles relacionados. Esse recurso amplia significativamente a identificação do número de topônimos disponibilizados na tela inicial revelada ao consulente (cerca de 1.800 topônimos). O conjunto de dados inventariados fornece, pois, um panorama do padrão toponímico do período coberto pela pesquisa.
O link Repositório contém duas abas, a da Busca já referenciada e a das Características que conduz o usuário para uma descrição pormenorizada acerca da “composição do banco de dados históricos sobre Minas Gerais – acidentes e nomes geográficos, e outras variáveis”. Nessa sessão do site,o usuário encontra valiosas informações que contemplam não só a descrição do conteúdo do banco de dados, como também dados esclarecedores sobre o percurso metodológico adotado na pesquisa como referencial teórico, terminologia utilizada, critérios adotados tanto para a seleção dos mapas quanto para a extração e o tratamento das informações nele contidas. Traz ainda, a descrição da estrutura político-administrativa da sociedade da época e dos termos que designavam os diferentes elementos dessa hierarquia administrativa, como também dos designativos das áreas habitadas, ou seja, os acidentes geográficos representados nos mapas e os seus respectivos nomes (topônimos). Dentre tantas outras posições metodológicas tomadas pelos pesquisadores, destaca-se o fato de ter sido definida a “localização atual dos lugares estudados, indicando-se o Estado, a mesorregião, a microrregião de pertencimento, e o nome e o vínculo geográfico hodierno”, o que favorece a intercomparabilidade de dados das diferentes sincronias contempladas pelo projeto. Enfim, trata-se de um texto rico de informações sobre o banco de dados que abre espaço para o recebimento de contribuições dos usuários, como possível ampliação de problemas acerca dos dados da Toponímia Histórica mineira, como proposições de problemas que possam motivar novas pesquisas sobre o léxico e, mais especificamente, a toponímia circunscrita ao território estudado, manifesta em fases distintas da história social de Minas Gerais.
Finalizando as considerações a respeito da estrutura do Repositório, destaco os dois últimos links do banco de dados: Créditos e Contato. Ao item Créditos são arroladas as informações acerca dos responsáveis pela produção de todos os tópicos que compõem o banco de dados, enquanto o item Contato é centrado no usuário, pois representa o canal de comunicação com os organizadores do “repositório digital de dados sobre a toponímia de Minas Gerais Colonial”.
Os aspectos pontuados, frutos de uma prazerosa leitura do material que compõe o repositório digital, longe de terem pretensões exaustivas, representam algumas das muitas impressões motivadas pela leitura. Muito poderia ser ainda pontuado, mas isso já seria objeto de outro gênero de texto. Ao mesmo tempo em que registro a satisfação por prefaciar esta obra que considero de extrema importância, não só como fonte de estudos acerca da toponímia histórica mineira, mas também como estímulo a outras produções dessa natureza, cumprimento toda a equipe que trabalhou nesse empreendimento, pois uma publicação dessa envergadura pode até ser idealizada por alguns, mas a sua concretude demanda o árduo trabalho de uma equipe coesa e comprometida com a proposta. Desejo que o Repositório seja fonte de inspiração para outras publicações e possa suscitar inúmeras e profícuas discussões sobre a importância do viés histórico como um dos eixos de estudo da toponímia como disciplina linguística.
Aparecida Negri Isquerdo
[1] SANTOS, Márcia Maria Duarte dos; SEABRA, Maria Cândida Trindade Costa de; COSTA, Antônio Gilberto Costa (Orgs.). Toponímia Histórica de Minas Gerais, do Setecentos ao Oitocentos Joanino - Registros em Mapas da Capitania e das Comarcas. 1. ed. Belo Horizonte/MG: Museu de História Natural e Jardim Botânico, Universidade Federal de Minas Gerais (MHNJB-UFMG); Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHG-MG), 2017. Disponível em: http://www.repositoriotoponimia.com.br/home. Acesso em: 24.set. 2017.
[2] DICK, Maria Vicentina de Paula do Amaral. A Dinâmica dos nomes na cidade de São Paulo (1554-1897). São Paulo: ANNABLUME, 1997.
[3] Neste texto, os excertos de textos extraídos do Repositório, tópicos objetos e considerações, foram registrados entre aspas.
[4] SEABRA, M. C. T. C. A formação e a fixação da Língua Portuguesa em Minas Gerais: a Toponímia da Região do Carmo. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2v, 2004.
[5] SANTOS, M. M. D.; SEABRA, M.C.T.C; COSTA, A. G. (Orgs.). Atlas – Patrimônio Toponímico na Cartografia Histórica de Minas Gerais. Belo Horizonte: Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, 2016. 1 CD. Acompanha material complementar (1 folheto e 10 marcadores de páginas). Disponível em: <https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/toponimia/index.html>. Acesso em: 28 abr. 2017.